Wednesday, October 30, 2024

1 - Bom Samaritano

 

DISCUSSÃO MORAL:

 

1a Questão: Parábola do bom samaritano:

      No evangelho de São Lucas, capítulo 10, encontra-se a parábola do bom samaritano.

      Disse Jesus: “Um homem baixava de Jerusalém à Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que logo o despojaram do que levava, e depois de o terem maltratado com muitas feridas, se retiraram deixando-o meio morto. Aconteceu que passava pelo mesmo caminho um sacerdote, e quando o viu passou de largo. Um levita passando perto daquele lugar, e vendo-o passou também de largo . Mas um samaritano, que ia seu caminho chegou perto dele e quando o viu se moveu à compaixão. E chegando-se lhe atou as feridas, lançando nelas azeite e vinhos, pondo-o sobre a sua cavalgadura, o levou à uma estalagem, e teve cuidado dele. E ao outro dia tirou dois denários, e deu-os ao estalajandeiro, e lhe disse: Tem-me cuidado dele, e quando gastares demais, eu to satisfarei quando voltar. Qual destes três te parece que foi o “próximo” daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu logo o doutor: Aquele que usou com o tal de misericórdia. Então lhe disse Jesus: Pois vai, e faze tu o mesmo.

      Jesus neste momento conversava com um “doutor da lei” que lhe perguntara como fazer para entrar na posse da vida eterna, respondeu Jesus que devia amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como à ti mesmo, mas logo surgiu outra questão: Quem é meu “próximo”? A função primordial da Parábola do bom samaritano é esclarecer o que se entende por “próximo” na concepção de Jesus.

     Há uma interessante ressalva nesta parábola, pois Jesus pergunta quem foi o próximo daquele que caiu, e não o próximo dos que passavam. O próximo é aquele que se inflama de misericórdia, aquele que se movimenta, que fica sensibilizado em torno de determinada questão. Próximo é aquilo que está perto, aquilo que se achega e se envolve, a humanidade é uma só, na teoria de que tudo compõe a verdade de Deus, tudo é Deus, tudo é próximo. Não há a necessidade de recriminarmos aqueles que não se sensibilizaram ao sofrimento alheio, mas sim a aceitação que  o todo sendo um não há diferença em ser feliz ou triste, em olhar à esquerda ou à direita, em ficar parado ou em fazer. Deus é amor, tudo é Deus, logo o que se entende por mundo é constituído de etapas necessárias, que poder ser interpretadas de distintas maneiras, a problemática da justiça, do bem e do mal, da moral caem por água abaixo quando submetidas à idéias de que Deus está em todas as coisas, mas não somente está em todas as coisas como uma pessoa pode entrar em uma caixa senão propriamente é todas as coisas.

      O sacerdote e o levita, que em tese deveriam auxiliar, já que entendiam das verdades divinas não o fizeram. A verdade do bem está impregnada no ser humano, mesmo que este não tenha antes ouvido falar dela, é bastante interessante que o sujeito foi movido por misericórdia quando prostou-se para auxiliar. Este movimento de misericórdia independe de um conhecimento específico sobre as leis divinas. De quê então dependerá a capacidade de bondade? Valores morais? Se fossem valores morais é certo que o Sacerdote deveria estar pleno destes, acontece que valor é a idéia daquilo que se move, valor moral não é a m,oral em si, mas sim a idéia do procedimento que deve ser tomado. A atitude compõe-se do movimento de espírito do ser humano, que deve supostamente estar direcionada pelo subsídio dos valores religiosos morais, mas que não dependem exclusivamente destes, e estes não são a proficiência da moral pura.

      Aquele que sabe não necessariamente segue aquilo que sabe, ainda que pensemos que se ele sabe de determinada verdade é mais provável que a siga. A questão que esta parábola trata pode ser interpretada mediante à importância que há na aquisição do conhecimento. Qual é a importância de saber? O que é realmente saber? O Sacerdote sabia aquilo que pregava? Saber é ser ciente da verdade, mas para realmente chegarmos à este estado devemos sentir nas profundezas de nossas entranhas, nas obscuridades de nossa consciência, nos recônditos mais longínquos de nosso coração aquela verdade. O conhecimento só é pleno quando é sentido, a dialética da moral não é suficiente por si para explicar o que é moral, pois a moral está no campo das atitudes, ainda que possa ser explicada e entendida no âmbito racional.

      A questão aqui é justamente sobre dialética e empirismo, no entanto ocorre que a experiência empírica do bom samaritano é permeada de moral, a moral é constituída em um processo de abstração de atitudes que se julga serem corretas ou incorretas mediante a noção de bem e mal. Problematicamente a noção de bem e mal é variável, podendo chegar ao antagonismo cabal em determinadas discussões. Não quero aqui tratar de questões morais estando com a mente infundida de dogmas, mas sim num aspecto filosófico, assim é certo dizer que o que se julga bem pode ser entendido como mal por outras pessoas. Isto devido às diferenças culturais, educacionais e pessoais de cada pessoa. Tudo isto expliquei justamente porque é tendência natural acusarmos os religiosos que passaram pelo necessitado sem ajudar  de opróbrio aos valores humanos de bondade e auxílio. Quê é bondade e auxílio? Quê pensaram eles quando passaram em linha reta? Quais eram suas realidades específicas? Recriminar idéias e valores sem antes entendê-los em suas plenitudes é muito mais fácil que fazer uma análise minuciosa de possibilidades diversas, ainda que por muitas vezes possamos encontrar as soluções em motivos bastante simples. Por isto é proveitoso disto concluir, que a atitude de não ajudar pode ser vista como correta quando notarmos que cada ser humano possui sua realidade distinta, e atitudes alegres podem ser vistas como desrespeitosas, e atitudes respeitosas podem ser vistas como indiferença, por isto, o mundo só é conhecido quando interpretado. A partir desta ressalva colocamos em pauta que a única importância que há no mundo é o modo como o interpretamos e não ele em si.

      Nos casos desesperadores em que um bem é imprescindível e necessário não há desculpas, em todos outros casos, no entanto, é suscetível à interpretação à noção de bem e mal. É certo dar moedas à pobres? Podemos notar por exemplo, nos dias atuais, um carro aparentemente indiferente ao sofrimento de um desesperado esfaimado que no farol vende suas balas para o ganha pão, com vidros fechados e esperanças nulas ao desesperado, o senhor do carro pode ser um contribuinte de uma instituição de caridade vigoroso, mas que não julgou conveniente dar dinheiro naquela ocasião por questões próprias, por julgar que o dinheiro não seria aplicado em alimentos propriamente ditos por exemplo, as aparências enganam porque tudo é suscetível à interpretações, e as interpretações variam mediante o histórico de cada um. Como iremos saber se o Sacerdote fez um mal em não ajudar? Talvez o histórico de vida dele estivesse direcionado de tal modo que a culpa por não haver ajudado fosse anulada. Só são culpados os que não cumprem aquilo que já sabem, e o saber, como já vimos antes, não é questão tão simples quanto parece, senão uma junção de experiência empírica com construção intelectiva e racional por um processo de dialética da realidade.

 

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