DISCUSSÃO MORAL:
1a Questão: Parábola do bom samaritano:
No
evangelho de São Lucas, capítulo 10, encontra-se a parábola do bom samaritano.
Disse
Jesus: “Um homem baixava de Jerusalém à Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões,
que logo o despojaram do que levava, e depois de o terem maltratado com muitas
feridas, se retiraram deixando-o meio morto. Aconteceu que passava pelo mesmo
caminho um sacerdote, e quando o viu passou de largo. Um levita
passando perto daquele lugar, e vendo-o passou também de largo . Mas um samaritano,
que ia seu caminho chegou perto dele e quando o viu se moveu à compaixão.
E chegando-se lhe atou as feridas, lançando nelas azeite e vinhos, pondo-o
sobre a sua cavalgadura, o levou à uma estalagem, e teve cuidado dele. E ao
outro dia tirou dois denários, e deu-os ao estalajandeiro, e lhe disse: Tem-me
cuidado dele, e quando gastares demais, eu to satisfarei quando voltar. Qual
destes três te parece que foi o “próximo” daquele que caiu nas mãos dos
ladrões? Respondeu logo o doutor: Aquele que usou com o tal de misericórdia.
Então lhe disse Jesus: Pois vai, e faze tu o mesmo.
Jesus
neste momento conversava com um “doutor da lei” que lhe perguntara como fazer
para entrar na posse da vida eterna, respondeu Jesus que devia amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como à ti mesmo, mas logo surgiu outra
questão: Quem é meu “próximo”? A função primordial da Parábola do bom
samaritano é esclarecer o que se entende por “próximo” na concepção de Jesus.
Há uma
interessante ressalva nesta parábola, pois Jesus pergunta quem foi o próximo
daquele que caiu, e não o próximo dos que passavam. O próximo é aquele que se
inflama de misericórdia, aquele que se movimenta, que fica sensibilizado em
torno de determinada questão. Próximo é aquilo que está perto, aquilo que se
achega e se envolve, a humanidade é uma só, na teoria de que tudo compõe a
verdade de Deus, tudo é Deus, tudo é próximo. Não há a necessidade de recriminarmos
aqueles que não se sensibilizaram ao sofrimento alheio, mas sim a aceitação
que o todo sendo um não há diferença em
ser feliz ou triste, em olhar à esquerda ou à direita, em ficar parado ou em
fazer. Deus é amor, tudo é Deus, logo o que se entende por mundo é constituído
de etapas necessárias, que poder ser interpretadas de distintas maneiras, a
problemática da justiça, do bem e do mal, da moral caem por água abaixo quando
submetidas à idéias de que Deus está em todas as coisas, mas não somente está
em todas as coisas como uma pessoa pode entrar em uma caixa senão propriamente
é todas as coisas.
O
sacerdote e o levita, que em tese deveriam auxiliar, já que entendiam das
verdades divinas não o fizeram. A verdade do bem está impregnada no ser humano,
mesmo que este não tenha antes ouvido falar dela, é bastante interessante que o
sujeito foi movido por misericórdia quando prostou-se para auxiliar. Este
movimento de misericórdia independe de um conhecimento específico sobre as leis
divinas. De quê então dependerá a capacidade de bondade? Valores morais? Se
fossem valores morais é certo que o Sacerdote deveria estar pleno destes,
acontece que valor é a idéia daquilo que se move, valor moral não é a m,oral em
si, mas sim a idéia do procedimento que deve ser tomado. A atitude compõe-se do
movimento de espírito do ser humano, que deve supostamente estar direcionada
pelo subsídio dos valores religiosos morais, mas que não dependem
exclusivamente destes, e estes não são a proficiência da moral pura.
Aquele
que sabe não necessariamente segue aquilo que sabe, ainda que pensemos que se
ele sabe de determinada verdade é mais provável que a siga. A questão que esta
parábola trata pode ser interpretada mediante à importância que há na aquisição
do conhecimento. Qual é a importância de saber? O que é realmente saber? O
Sacerdote sabia aquilo que pregava? Saber é ser ciente da verdade, mas para
realmente chegarmos à este estado devemos sentir nas profundezas de nossas
entranhas, nas obscuridades de nossa consciência, nos recônditos mais
longínquos de nosso coração aquela verdade. O conhecimento só é pleno quando é
sentido, a dialética da moral não é suficiente por si para explicar o que é
moral, pois a moral está no campo das atitudes, ainda que possa ser explicada e
entendida no âmbito racional.
A
questão aqui é justamente sobre dialética e empirismo, no entanto ocorre que a
experiência empírica do bom samaritano é permeada de moral, a moral é
constituída em um processo de abstração de atitudes que se julga serem corretas
ou incorretas mediante a noção de bem e mal. Problematicamente a noção de bem e
mal é variável, podendo chegar ao antagonismo cabal em determinadas discussões.
Não quero aqui tratar de questões morais estando com a mente infundida de
dogmas, mas sim num aspecto filosófico, assim é certo dizer que o que se julga
bem pode ser entendido como mal por outras pessoas. Isto devido às diferenças
culturais, educacionais e pessoais de cada pessoa. Tudo isto expliquei
justamente porque é tendência natural acusarmos os religiosos que passaram pelo
necessitado sem ajudar de opróbrio aos
valores humanos de bondade e auxílio. Quê é bondade e auxílio? Quê pensaram
eles quando passaram em linha reta? Quais eram suas realidades específicas?
Recriminar idéias e valores sem antes entendê-los em suas plenitudes é muito
mais fácil que fazer uma análise minuciosa de possibilidades diversas, ainda
que por muitas vezes possamos encontrar as soluções em motivos bastante
simples. Por isto é proveitoso disto concluir, que a atitude de não ajudar pode
ser vista como correta quando notarmos que cada ser humano possui sua realidade
distinta, e atitudes alegres podem ser vistas como desrespeitosas, e atitudes
respeitosas podem ser vistas como indiferença, por isto, o mundo só é conhecido
quando interpretado. A partir desta ressalva colocamos em pauta que a única
importância que há no mundo é o modo como o interpretamos e não ele em si.
Nos
casos desesperadores em que um bem é imprescindível e necessário não há
desculpas, em todos outros casos, no entanto, é suscetível à interpretação à
noção de bem e mal. É certo dar moedas à pobres? Podemos notar por exemplo, nos
dias atuais, um carro aparentemente indiferente ao sofrimento de um desesperado
esfaimado que no farol vende suas balas para o ganha pão, com vidros fechados e
esperanças nulas ao desesperado, o senhor do carro pode ser um contribuinte de
uma instituição de caridade vigoroso, mas que não julgou conveniente dar
dinheiro naquela ocasião por questões próprias, por julgar que o dinheiro não
seria aplicado em alimentos propriamente ditos por exemplo, as aparências
enganam porque tudo é suscetível à interpretações, e as interpretações variam
mediante o histórico de cada um. Como iremos saber se o Sacerdote fez um
mal em não ajudar? Talvez o histórico de vida dele estivesse direcionado de tal
modo que a culpa por não haver ajudado fosse anulada. Só são culpados os que
não cumprem aquilo que já sabem, e o saber, como já vimos antes, não é questão
tão simples quanto parece, senão uma junção de experiência empírica com
construção intelectiva e racional por um processo de dialética da realidade.
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